Have you met … Ave Valley Smart Hub?

Na Setup Guimarães temos o privilégio de poder colaborar com pessoas muito diferentes, cheias de ideias e sonhos e com vontade de fazer a diferença. No fundo é isso mesmo que também define a nossa incubadora: ajudar a trazer sonhos e ideias à luz do dia!

Uma das nossas incubadas é a Marta. A Marta tem vindo a desenvolver um projeto que visa desenvolver uma plataforma que otimiza o design e a criação de coleções têxteis, a Ave Valley.

Estivemos à conversa com a Marta, que nos falou um pouco acerca de si e do seu projeto, sonhos e ambições. Bora lá conhecer a Marta e a Ave Valley?

Olá Marta, fala-nos um pouco sobre ti (história, formação, …).

 

O meu percurso académico e profissional é bastante errático, na verdade. E nada previsível. Talvez seja o reflexo da minha curiosidade sobre querer saber mais sobre tudo. De me auto-desafiar constantemente e de viver em aprendizagem contínua. Cresci e fiz o ensino secundário em Guimarães a achar que queria ser advogada. Na altura, tinha um grupo de amigos que se encontrava regularmente para debater política, sociologia, literatura…. Fazíamos tertúlias informais sobre os assuntos da atualidade e aperfeiçoámos as nossas competências de argumentação. Fomos todos para cursos de Direito. Eles continuaram. Eu desisti no primeiro semestre. Faltou-me sentir capacidade de inovar. No ano seguinte rumei a Coimbra, fiz o curso de Educação de Infância, apaixonei-me pela Educação Emocional e desenvolvi no último ano do curso, em 2000, um projeto que hoje reconheço ser o meu primeiro passo na área da inovação. Na altura, estava a fazer um dos estágios finais curriculares na sala de Pré-escolar do serviço de internamentos do Hospital Pediátrico de Coimbra. Muitas das crianças que aí acompanhámos ficavam dias, e até semanas, sem contacto com a escola, amigos e família alargada. A socialização, os laços e as aprendizagens eram constantemente interrompidas pelos tempos de internamento. Na perspetiva de diminuir o distanciamento emocional e manter o sentimento de pertença nos grupos de escola e proximidade com a família, desenvolvemos um projeto de aulas à distância através de videochamadas, assim como a possibilidade de se conectarem com familiares e amigos da mesma forma. Lembro-me que, na altura, há 24 anos, apesar de já haver as câmaras de vídeo como periféricos, as ligações à distância com imagem ainda eram complexas de se estabelecer. Com a ajuda da equipa de informática dos serviços do Hospital conseguimos fazer o piloto e deixar instalado na sala de atividades um espaço de comunicação virtual que até aí não existia, diminuindo a distância entre as crianças internadas e o mundo fora do Hospital.

 

Concluído o curso, estive no ensino 15 anos. Sempre empenhada na inovação pedagógica e em fomentar a criatividade, quer nos alunos, quer nas equipas com quem trabalhei. Fui educadora, diretora pedagógica e formadora de adolescentes e adultos nos cursos Técnicos de Apoio à Infância. Em 2015, inevitavelmente, entrei no mundo da indústria têxtil. Digo inevitavelmente porque entrei para o negócio da família, há alguns anos a seduzir-me para aprender o negócio e dar continuidade à empresa já com 20 anos. Apesar de ter crescido no centro da indústria têxtil nacional, pouco sabia sobre o negócio. Passei por um período intenso de formação formal e informal. Quis aprender tudo, desde materiais, técnicas, gestão de processos, clientes… e fui sempre questionando esses mesmos processos. Tudo me parecia tão complexo, moroso, caótico, até. Na minha cabeça, tinha que encontrar uma forma mais simples de gerir os processos com maior eficiência, menor margem de erro, evitar o desperdício, as perdas por não conformidades resultantes de falhas de comunicação… Um ano depois de estar na empresa, comecei a desenhar formas de melhorar a eficiência e a eficácia nos processos de desenvolvimento de coleções, o ponto de partida para os bons resultados de qualquer empresa. Numa espécie de spin-off pessoal, desde 2023 que comecei a preparar a Ave Valley Smart Hub, participando em projetos de criação e aceleração de start-ups, frequentado cursos para executivos na área do Exponential Business Administration e ESG, assistindo a conferências e encontros ligados aos ecossistemas de inovação. Voluntariei-me para organização de eventos de promoção da inovação e tecnologia em Portugal, a Portugal Tech Week e a Techstars Week Guimarães. Tornei-me formadora e mentora na área da Inovação para a Competitividade do Projeto VoiceLeadership promovido pela NOVA SBE que tem como finalidade ajudar as PME portuguesas a melhorarem a sua performance e produtividade. Enfim, o meu crescimento pessoal e profissional sempre foi uma prioridade para me manter relevante no mundo dos negócios. Esteja onde estiver, gosto de saber do que falo e entender do que me falam.

 

 

Tiveste alguma(s) pessoa(s) que influenciou(aram) o teu percurso? Alguém que represente uma referência para ti que o motivou, inspirou?

Naturalmente, os meus pais. Construíram um negócio de raiz, de forma incremental, ao longo dos anos. Nem sempre foi fácil, mas persistiram. Tiveram a visão de, numa altura em que grande parte da indústria têxtil em Portugal procurava fornecer grandes marcas com quantidades de produção de milhares de peças, em que a quantidade e o preço competitivo de sobrepunha à qualidade, os meus pais procuraram o mercado das quantidades pequenas, a flexibilidade no tipo de produtos e o valor acrescentado da qualidade de uma cadeia de fornecedores 100% nacional e local. Mais tarde, outras pessoas trouxeram-me a visão tecnológica do negócio e como a tecnologia e a digitalização são a única forma de alcançarmos a verdadeira sustentabilidade, aquela que, além dos materiais, inclui processos mais sustentáveis, desde a conceção do produto até à sua distribuição ao cliente final. Estas pessoas tornaram-se impulsionadoras e parceiras na criação da Ave Valley Smart Hub continuando ainda hoje parte essencial da equipa.

A Ave Valley é uma plataforma que otimiza o design e a criação de coleções têxteis. Como surgiu a ideia de criação da Ave Valley Smart Hub e como chegou ao que é hoje?

 

Mais do que otimizar o design, a Ave valley Smart Hub é um SaaS colaborativo entre as marcas e as cadeias de fornecedores que procura oferecer o alcance de 3 grandes objetivos: o ecodesign de coleções, a transparência e rastreabilidade da cadeia de fornecedores num modelo de proximidade entre si sempre que possível, e a consultoria para a implementação daquilo que designamos de Precision Fashion.

 

A ideia de criação da Ave Valley Smart Hub surgiu precisamente do facto de assistirmos a uma necessidade urgente de transformação da indústria têxtil. Somos a 4ª indústria mais poluente do Planeta. A forma como a indústria está organizada vem dos tempos da revolução industrial: produção em série, exploração do mercado com base no preço mais baixo, sem margem para que as empresas produtoras possam inovar, eternamente refém do cliente de maior volume que facilmente muda de fornecedor por poucos cêntimos. Produzem-se quantidades que sabemos que não vão ser vendidas, apenas para conseguirmos melhores preços em função da escala, vendem-se os primeiros artigos a preços que permitam cobrir o investimento, salda-se uma parte, manda-se para aterro a restante. A este modus operandi acrescenta-se o facto de serem os próprios produtores a arcarem com todos os custos de desenvolvimento, quer para coleção, quer para produção, obrigados a aceitar termos de pagamento a 60 e 90 dias após entrega da produção. Isto significa que temos toda uma indústria têxtil a investir nas grandes marcas durante vários meses (entre o processo inicial de uma lead até à entrega da produção podem decorrer 6, 12, 18 meses), a receberam os pagamentos diferidos no tempo após entrega e sempre na dúvida se serão ou não escolhidos para uma próxima produção. Um ciclo vicioso que apenas beneficia as grandes marcas e pressiona os fornecedores a ultrapassarem várias linhas vermelhas no que diz respeito à justiça social, boa governança e à proteção ambiental.

Qual a proposta de valor/diferenciação da Ave Valley?

 

A proposta de valor da Ave Valley é de disrupção com o estabelecido. Existimos para apoiar as pequenas e médias marcas e as pequenas e médias empresas do setor têxtil. A verdadeira transformação virá dos pequenos e médios. Têm maior capacidade de adaptação, maior capacidade de transformação, estão menos expostos ao risco da mudança e mais facilmente conseguem envolver as equipas numa transformação vertical e transversal. O nosso SaaS, é um PLM (Product Lifecycle Mangement System) que acompanha de forma interativa e simples a criação de coleções ou modelos individuais, independentemente do grau de conhecimento sobre uma produção têxtil, passo a passo com total informação sobre os custos envolvidos, tempos estimados para cada etapa, desenvolvimento de protótipos e amostras de produto.

 

Os utilizadores tanto podem ser agentes ou marcas e trazerem para dentro da aplicação toda a sua cadeia de fornecedores, como podem ser as próprias fábricas a convidarem as marcas suas clientes a usarem a plataforma como forma preferencial de comunicação, processos de decisão sobre materiais, aprovações… ficando todos os processos geridos na cloud, reduzindo a entropia de outras formas de comunicação dispersa, reduzindo as probabilidades de erro e facilitando o acesso em tempo real a dados de apoio à gestão. Para finalizar, e aquilo que acreditamos que vá ser realmente disruptivo, é a implementação de processos de produção de precisão, aquilo que denominamos de Precision Fashion. Neste modelo, as peças que entram no mercado são aquelas que já foram efetivamente compradas pelo cliente final. Ou seja, a produção é feita após compra, garantindo que há uma efetiva prevenção de stocks não vendidos e de desperdício de recursos que, não podendo agora acabar em aterros, terão que entrar em processos dispendiosos de desmantelamento e reciclagem.

 

Para conseguirmos alcançar o estado de Precision Fashion é necessário integrar tecnologias que estão agora ao nosso alcance e que a Ave Valley está a desenvolver para apoiar as fábricas do futuro, aliando consultoria individual às marcas no desenho de produtos compatíveis com os processos e consultoria individualizada às fábricas na sua reorganização interna de processos e operacionalização do chão-de-fábrica. Depois, é deixar a máquina tecnológica trabalhar para manter o custo-eficiência na sua melhor performance.

Quais os planos para o futuro?

 

Levar a Ave Valley Smart Hub também para fora de Portugal. Neste momento estamos a implementar o SaaS em agências e empresas nacionais, mas a nossa ambição é integrar cadeias de fornecedores de proximidade noutras localidades europeias com indústria têxtil implementada ou a reestruturar-se. Continuar a apoiar marcas de pequena e média dimensão que lutam por produções de quantidades mais pequenas e ajustadas aos seus mercados, muitas vezes de nicho. Continuarmos a ser consultores privilegiados para a Precison Fashion e ajudar marcas e fábricas a adotar sistemas disruptivos de produção. Olhando para a Ave Valley Smart Hub daqui a 5 anos, queremos ser referência sempre que se falar em produção têxtil responsável, transparente e sustentável e, além disso, podermos apoiar a indústria têxtil a transformar-se hoje para se munirem de ferramentas de anti-fragilidade que as preparem para o futuro. As metas europeias de sustentabilidade só serão alcançadas e rentáveis com a introdução de tecnologia. Não temos dúvidas disso.

 

Podes dizer-nos algumas curiosidades/factos sobre a Ave Valley?

 

A Ave Valley foi recentemente convidada a apresentar-se numa conferência sobre um projeto europeu que envolve mais de uma dezena de escolas de moda em outros tantos países da Europa. Deste convite surgiu a possibilidade de estabelecermos uma parceria para mapearmos Hubs da indústria têxtil em cada um dos países, numa experiência conjunta de fortalecer a indústria têxtil europeia e apoiar os futuros designers a serem verdadeiros ecodesigners nas suas criações. Este é um ponto de partida para a internacionalização muito importante para nós. E, curiosamente, encontro aqui também a aproximação dos meus mundos: o ensino, a indústria têxtil e a tecnologia.

 

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